Esta expressão nunca foi tão relevante como neste momento. Antes do Covid-19, a usávamos como metáfora para ensinar que precisamos estar bem para podermos cuidar de outra pessoa. É o que nos ensinam quando viajamos de avião em caso de emergência, primeiro você coloca a sua máscara para depois ajudar outra pessoa, mesmo que seja uma criança ou um idoso.

“Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente. Puxe uma das máscaras, coloque-a sobre o nariz e a boca ajustando o elástico em volta da cabeça e respire normalmente, depois auxilie quem estiver ao seu lado”

Podemos fazer uma relação da necessidade do uso da “máscara de oxigênio” em nossos relacionamentos. Antes da Covid-19, usávamos uma “máscara de oxigênio” em momentos e situações específicas, pontuais com a família, amigos ou colegas de trabalho.

Com a Covid-19 a expressão do uso da “máscara” é uma realidade necessária todos os dias quando saímos às ruas. Usar a máscara é preciso para diminuirmos o risco de contaminação, uma exigência para evitarmos que hospitais e centros de saúde não tenham recursos de atendimento caso uma grande massa de pessoas se contamine com a doença. Trata-se do relacionamento físico. Precisamos fazer o uso do equipamento, manter a distância em relação ao outro e evitar o toque. Uma nova forma de agir que não estávamos acostumados, um novo aprendizado.

Mas e quando estamos em casa? Aqueles momentos pontuais que usávamos a “máscara” passaram a ser diários em muitos lares. A convivência e o relacionamento interpessoal se intensificaram. Muitos estão descobrindo características, atitudes e comportamentos em seus entes queridos que não gostam ou se desencontram daquilo que entendem por certo. As relações familiares estavam mais superficiais, estávamos mais distantes. Estávamos ocupados em trabalhar para ter e deixamos de lado o ser. O aumento do tempo de convivência traz desconfortos para todos. 

Nas empresas, com os colegas, talvez a dificuldade esteja acontecendo em um sentido inverso neste momento. Muitos deviam estar usando suas “máscaras” diariamente e agora, com o distanciamento social e o teletrabalho, estão tendo que aprender sem o convívio com os demais. Isso não significa que é fácil, também exige um novo aprendizado.

O que o vírus está nos deixando claro é que temos que reaprender a nos relacionarmos melhor uns com os outros e em diferente formatos e grupos. É o momento de aprender a lidar com o humano e suas vulnerabilidades, aprender a Ser de maneira integral. Isto serve para as relações familiares, profissionais, amizades…

Um dos caminhos de aprendizado é entendermos sobre as competências socioemocionais, ou sof skills. Trata-se dos comportamentos ligados a inteligência emocional e que abrangem o Relacionamento Interpessoal e Intrapessoal. Ambos estão relacionados e o ideal é tratarmos primeiro de entender nossas competências intrapessoais, primeiro nos conhecermos para podermos entender e nos relacionarmos com outro. Abaixo seguem algumas dicas que podem auxiliar no seu processo de relacionamento.

  • Conheça suas emoções

Quando conhecemos as nossas emoções temos condições de saber quais situações e comportamentos ativam nossos gatilhos emocionais. Isso significa entender, por exemplo, porque você fica com raiva quando um pai/mãe ou marido/esposa pede para você tirar a toalha molhada de cima da cama; ou quando uma pessoa corta a sua frente no trânsito e você tem vontade de sair do carro e tomar satisfações; ou ainda quando um colega aponta um erro cometido por você e a sua reação é agredi-lo ao invés de ouvir. Tomar consciência do que sentimos é o caminho para entendermos as nossas reações em relação ao outro.

  • Pense antes de agir

Ao sermos impulsivos em nossas respostas causamos danos irreparáveis às pessoas que que queremos bem. Na maioria dos casos, o impulso nos faz dizer coisas que não seriam adequadas naquele momento, ou são ditas de uma forma não construtiva. Temos poucos segundos para interferir no impulso emocional. Use estes segundos para pensar se o que será dito é relevante naquele momento. Veja se não está sendo carregado por uma situação passada que despertou uma memória indesejada, se o que será dito faz sentido naquele contexto. Estes segundos são decisivos para gerarmos um impacto positivo em uma relação.

  • Seja Empático

Desenvolva a inteligência multifocal. Entender que o nosso pensamento é único e virtual, cada pessoa tem pensamentos e sentimentos próprios, portanto precisamos entender o outro sobre a perspectiva dele. Não podemos entender o outro sob a nossa própria perspectiva, o óbvio não existe. Temos que entrar no contexto do outro para entende-lo, conhecer seus sentimentos e pensamentos. Só assim estaremos evitando julgamentos e poderemos diminuir impactos negativos nos nossos relacionamentos.

  • Entenda o propósito

Tenha claro para você qual o propósito de cada relacionamento. Aqui vale o jargão “você deseja ser feliz ou ter razão?” Analise quando vale a pena discutir ou entrar em conflito. O conflito pode nos fazer crescer, mas também pode ser evitado se soubermos o porquê estamos entrando ou saindo dele. Quando o propósito está claro e conhecemos nossos gatilhos emocionais conseguiremos pensar antes de agir inadequadamente. O silêncio fará parte do nosso diálogo e as relações ficarão preservadas.

Você pode ter insights importantes ao exercitar estas dicas. Dê o primeiro passo, não espere que os outros mudem e saiba que você não tem o poder de mudar ninguém. As relações mudam à medida que cada um muda em relação ao outro e não ao contrário.

Não espere pelo milagre, faça ele acontecer!

Alessandra Martinewski

Consultora Especialista em Competências, Remuneração e Performance, , Gestão, Comportamento e Emoções, Assessment Comportamental.

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